Considerado o terceiro maior país do mundo em termos de área territorial, abrangendo quase 9,6 milhões de km², a República Popular da China é atualmente a segunda nação mais populosa do planeta (UNFPA, 2023), com aproximadamente 1,426 bilhões de habitantes (cerca de 19% da população global), superada apenas pela Índia. e23v
Trata-se de uma república popular socialista unipartidária, caracterizada como um sistema de cooperação e consulta política sob a liderança do Partido Comunista da China, sendo a segunda maior economia global, com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 17,7 trilhões (FMI, 2023).
Com uma extensão litorânea de cerca de 14.000 km e aproximadamente 6% de toda a água doce do planeta, a China é um gigante geográfico e hidrológico, dividida em 22 províncias, 5 regiões autônomas, 4 municípios centrais e 2 regiões istrativas especiais (Fig. 01). É considerada a maior potência econômica em termos da cadeia produtiva do pescado.
Com aproximadamente 6% de toda a água doce do planeta, a China é um gigante geográfico e hidrológico.
Organização das Nações Unidas (ONU) destaca que os produtos aquáticos são opções alimentares saudáveis e com baixo impacto ambiental. E que o setor de criação de pescado é o que mais cresce em relação à população global, sendo atualmente a principal fonte de proteína animal do mundo e com grande eficiência na conversão alimentar. Além disso, os produtos da pesca e da aquicultura são essenciais para a segurança alimentar e nutricional, conforme os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com ênfase no conceito de saúde única.
Dessa forma, para os chineses, uma das principais fontes de alimentos é a derivada dos recursos aquáticos. A China, líder mundial aquícola, é responsável por 36% da produção global de aquicultura e pesca, com 223,2 milhões de toneladas em 2022, incluindo 185,4 milhões de toneladas de animais aquáticos e 37,8 milhões de toneladas de algas (FAO, 2024). O país tem uma tradição de mais de 3.000 anos na criação de organismos aquáticos, e o setor de pescado contribui significativamente para a segurança alimentar, aumenta a ingestão de proteínas, sustenta a população rural empobrecida, gera empregos, impulsiona o PIB e incrementa a receita e os impostos locais.
Dos 185,4 milhões de toneladas de produção global de pesca, tanto marinha quanto continental, 92,3 milhões de toneladas foram obtidas por meio da pesca extrativista em 2022. Assim, a China liderou a produção global de pesca extrativista, obtendo 14,3% das capturas mundiais totais, ultraando Indonésia e Índia (FAO, 2024) (Fig. 02). No entanto, observa-se gradualmente um declínio ou estagnação nas capturas, devido à redução dos recursos pesqueiros, mudanças na política ambiental chinesa e os impactos da pandemia de COVID-19, que afetaram exportações, mão de obra, suprimentos e insumos para a cadeia produtiva (FAO, 2022).
A China, líder mundial aquícola, é responsável por 36% da produção global de aquicultura e pesca, com 223,2 milhões de toneladas em 2022, incluindo 185,4 milhões de toneladas de animais aquáticos e 37,8 milhões de toneladas de algas.
Em relação à aquicultura, a produção global foi de 130,9 milhões de toneladas, com 94,4 milhões de toneladas de animais aquáticos para consumo humano e 36,5 milhões de toneladas de algas, além de toneladas de conchas e pérolas para uso ornamental. A China, principal produtora mundial, liderou com 63,4% da produção de animais aquáticos criados em cativeiro (Fig. 03), destacando-se na produção de moluscos bivalves, algas, tilápia, bagres e carpas. Além disso, houve um aumento na domesticação de novas espécies, especialmente marinhas (FAO, 2024).
Portanto, enquanto a produção pesqueira se mantém estável, a aquicultura na China continua a expandir, com crescimento sustentável e aumento da demanda por produtos de qualidade e certificados, o que contribui para a redução dos preços. No entanto, a escassez crescente de recursos terrestres e hídricos no país pode limitar o crescimento da aquicultura de água doce no futuro (FAO, 2024).
Tal fato promove na China o desenvolvimento de inovações tecnológicas na aquicultura, como a produção em águas profundas e mar aberto, com profundidades superiores a 30 metros, para explorar melhor os recursos biológicos marinhos e expandir a indústria aquícola.
Além disso, a aquicultura sem alimentação, como a algicultura e a piscicultura de espécies como carpa e bagre, bem como a malacocultura como amêijoas, ostras e mexilhões, e outros animais filtradores marinhos e costeiros, como ascídias, está em ascensão. Embora essa prática seja benéfica para a segurança alimentar e o meio ambiente, e vista como potencial solução para o desenvolvimento de áreas na África e América Latina, resulta em um crescimento mais lento das espécies.
Por fim, outra prática sustentável inovadora é o policultivo multitrófico, que otimiza o uso de recursos alimentares e traz benefícios ambientais. Exemplos incluem o cultivo conjunto de tilápia e camarão, camarão com moluscos navalha, camarões com caranguejos e algas, além de diversas espécies de peixes, abalone, pepino-do-mar e algas.
Fujian, localizada no sudeste da China, destaca-se na produção de organismos aquáticos, com uma área de 121.400 km² e uma população de 35,35 milhões de habitantes. Possui a maior área marítima da China, com 3.752 km², localizada entre o Mar da China Oriental e Meridional, acima de uma zona de plataforma continental subtropical, onde convergem correntes frias e quentes e ocorre a injeção de água doce no mar, aumentando a produtividade costeira (FUJIAN, 2024).
Apresenta clima moderado subtropical, caracterizado por chuvas abundantes e uma extensão total dos rios interiores de 13.569 km. Fujian desfruta de abundantes recursos aquáticos, com 125.100 km² para pesca offshore, 2.700 km² para maricultura e mais de 500 unidades de criação marinha de peixes.Logo, é reconhecida como uma zona econômica especial, sendo um polo agrícola, aquícola e industrial, que apresenta crescimento anual no PIB. Historicamente, é uma região aberta ao comércio exterior (FUJIAN, 2024).
Pelo seu potencial aquícola, desde 2005, o governo chinês vem promovendo cursos e capacitações em Fujian, através do Instituto de Oceanografia de Fujian (FJIO) e com o apoio do Ministério do Comércio da China, para incentivar a produção global e estreitar laços comerciais (Fig. 04a e 04b). O FJIO, vinculado ao Departamento de Ciência e Tecnologia de Fujian, desempenha um papel crucial em pesquisa e desenvolvimento na maricultura marinha, gestão costeira e economia oceânica sustentável.
Assim, o curso “Formação Técnica em Maricultura e Processamento e Logística de Produtos Aquáticos para Países Latino-Americanos e do Caribe” ocorreu de 11 a 24 de outubro de 2023 em Xiamen, Fujian. Destinado a funcionários, pesquisadores e profissionais de áreas como maricultura e logística, foi ministrado em chinês com tradução simultânea para o espanhol e contou com 26 participantes de sete países da América Latina e Caribe(Brasil, Venezuela, Argentina, Equador, Panamá e República Dominicana). Incluiu ainda oito profissionais do Estado do Rio de Janeiro, que participaram a convite da Associação dos Estudantes de Seminários da China (AESC) e do Consulado Chinês do Estado do RJ (Fig. 05).
Logo, é de extrema relevância a China no cenário mundial da cadeia produtiva do pescado, e o estreitamento de laços entre o país e o Brasil pode promover o incremento e melhoria das atividades relacionadas a nível nacional. Mais informações sobre o curso em Fujian ocorrerão na parte 02 deste artigo.
Autores:
André Luiz Medeiros de Souza¹*, Guilherme Búrigo Zanette², Lígia Coletti Bernadochi², Cristiane Rampinelli Zanella³, Genaro Barbosa Cordeiro², Khauê Silva Vieira⁴, Rafael Ávila Cardoso⁵ e Marco Antônio De Luca⁶
1 Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços – SEDEICS/RJ
2 Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro - FIPERJ
3 Autônoma
4 Universidade Federal Fluminense - UFF
5 Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro - SindRio
6 Empresa Tilápias Mangaratiba
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