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Green Technologies
12 de Maio de 2025 Maurício Emerenciano
Bioflocos: já atingimos a maturidade? E quais são os próximos os?

Na última edição da coluna Green Technologies da Aquaculture Brasil, abordamos o papel da circularidade e dos serviços ecossistêmicos na produção aquícola. A origem dos insumos utilizados e os sistemas de produção adotados são fundamentais para garantir uma maior adesão aos princípios da economia circular. Nesse contexto, o sistema de bioflocos — criado na década de 1970 — vem se consolidando tanto na academia quanto no setor comercial, especialmente a partir do início do século XXI. 1z4u3j

Naquela época, fazendas como a Belize Aquaculture, na América Central, e a Blue Archipelago, na Ásia — ambas focadas na produção de camarões marinhos — foram fundamentais para a popularização do sistema. “É um sistema que tem, em sua essência, a circularidade”. O reuso da água e a otimização dos nutrientes — ou seja, o consumo contínuo da biomassa microbiana que favorece a eficiência alimentar, possibilita a redução da proteína dietética e permite a substituição de ingredientes mais ‘’ das rações por opções locais, renováveis e íveis — são apenas alguns elementos desse enfoque mais circular.

adas mais de duas décadas e vários ciclos de euforia (Figura 1), fica a pergunta: o sistema de bioflocos já atingiu a maturidade esperada? E, em caso positivo, quais seriam os próximos os para consolidar essa técnica como uma opção real para a produção mais sustentável de proteína aquática? Esses são os temas que vamos abordar nesta coluna!

 

 

Bioflocos: já atingimos a maturidade desejada? 2ro4y

Na minha opinião, a resposta é: “depende”. Depende da região do globo a que estamos nos referindo e de qual indústria aquícola estamos tratando. Na América Latina e em partes da Ásia, o entendimento e a adoção são mais predominantes. Já na Europa, América do Norte, na região Indo-Pacífica e em algumas áreas da Ásia, ainda estamos longe de alcançar a maturidade. Eu arriscaria dizer que, para muitos desses lugares, é apenas o começo. Claro que existem exceções — como algumas regiões da Índia e dos Estados Unidos —, mas, em termos gerais, esse é o panorama.

Nos continentes e países com maior maturidade (por exemplo, Brasil, China e México), as pesquisas realizadas por universidades e a disseminação de informações por meio de cursos e treinamentos foram cruciais para essa evolução. Segundo recentes artigos de revisão sobre o tema, o Brasil é o país número 1 em pesquisas sobre bioflocos no mundo, exportando recursos humanos e informações para diversas partes do globo (Basumatary et al., 2023; Khanjani et al., 2024).

Em termos de espécies, na produção de camarões marinhos (Penaeus vannamei) e na produção de tilápias — especialmente na fase de berçário — já existe certa consolidação. No entanto, a ausência de linhagens genéticas específicas, surtos de doenças e oscilações nos custos de produção impactaram significativamente uma adoção mais linear do sistema (Figura 1). Além disso, a complexidade biológica e a falta de mão de obra especializada para o manejo adequado do microbioma e da qualidade da água têm afetado negativamente o desempenho do sistema, desestimulando muitos produtores.

Entretanto, em locais onde houve investimento em mão de obra mais qualificada, aliado a uma gestão mais holística do negócio — geralmente priorizando produtos de maior valor agregado — é possível observar um nível maior de maturidade. Como exemplo, podemos citar a produção de juvenis de tilápia e P. vannamei, bem como a produção e manutenção de plantéis de reprodutores de peixes e camarões.

De modo geral, na fase de engorda de camarões marinhos também se observa esse amadurecimento, embora os atuais custos de produção estejam inviabilizando a adoção do sistema em algumas regiões do mundo. Vale ainda destacar que, ao longo dos últimos 10 anos, o sistema de bioflocos ou a incorporar algumas variações, como, por exemplo, a migração para um manejo simbiótico e “Aquamimicry”, conforme relatado no artigo de Khanjani et al. (2023), publicado na revista Aquaculture.

Figura 1 – Ilustração representando o número de fazendas que adotam o sistema de bioflocos e o impacto das pesquisas, dos custos de produção, das doenças e/ou dos problemas relacionados à falta de mão de obra especializada.

 

 

Bioflocos e os próximos os 5ju3s

Ninguém tem bola de cristal, e é difícil prever a evolução do sistema nos próximos 10 a 20 anos. No entanto, acredito em uma maior adoção por países da Ásia, especialmente pela China, que tende a expandir o número de fazendas que utilizam sistemas mais fechados de produção.

Se a pressão dos custos de produção diminuir e genéticas mais específicas se tornarem mais íveis, países como Tailândia, Indonésia, Colômbia, Vietnã, Brasil e México poderão retomar ou ampliar o uso do sistema (Figura 2). Com a redução de custos e a maior disseminação de informações e de recursos humanos, acredito que a África, a Europa e países da região Indo-Pacífica (como a Austrália, por exemplo) também ampliarão a adoção.

Fazendas urbanas e periurbanas voltadas a um público de nicho, com produtos mais frescos e ‘’ (como as fazendas europeias de camarões marinhos), bem como a larvicultura de camarões marinhos ou de peixes carnívoros (visando um melhor balanço microbiano na água e/ou a diminuição do canibalismo), além da aquicultura ornamental e multitrófica, são exemplos de outros segmentos que podem aumentar a adoção do sistema de bioflocos nos próximos anos.

Certamente, com uma genética mais específica, a adoção de automação e inteligência artificial com aplicativos de e à tomada de decisão, além de maior capacitação de técnicos de campo e tomadores de decisão, será possível suprir a atual carência de mão de obra especializada e a inconsistência nos resultados produtivos a campo. Resta aguardar para ver os próximos os desse sistema que veio para ficar.

Figura 2 – Fazendas na Ásia e Brasil. Evolução em busca do equilíbrio econômico e produtivo.

 

Por: Maurício Gustavo Coelho Emerenciano*

CSIRO, Livestock & Aquaculture Program, Bribie Island Research Centre, Bribie Island, Austrália.

E-mail: [email protected]

*As opiniões citadas acima são exclusivamente pessoais dos autores e não necessariamente remetem as opiniões das instituições vinculadas ao mesmo. As referencias citadas podem ser solicatadas diretamente com o autor.

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Maurício Emerenciano

Maurício Emerenciano é graduado em Zootecnia (UEM), mestre em aquicultura (FURG) e doutor em Ciências pela UNAM (México). Em 2014 foi ganhador da Medalha Alfonso Caso (menção honrosa designada às melhores teses e dissertações dos Programas de Pós-Graduação da UNAM/México). Atua na aquicultura desde 2002 e como pesquisador já realizou cooperação científica em diversos centros de pesquisa como Waddell Mariculture Center (EUA), CSIRO (Austrália) e IFREMER (França). Foi consultor científico em aquicultura para o governo do Chile, do México e Polinésia sa (Pôle d’Inovación de Tahiti). Membro do Biofloc Technology Steering Committee (AES), voltado a ações científicas e tecnológicas referentes ao sistema BFT. Possui capítulo de livro referência mundial da tecnologia de bioflocos (Biofloc Technology - The practical guide 3rd edition). Já proferiu mais de 20 cursos e diversas palestras sobre tecnologias “mais verdes” de produção para produtores, indústria e academia no México, Brasil, Chile e Colômbia. Atualmente é professor e pesquisador da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), campus Laguna/SC, onde coordena projetos de pesquisa vinculados ao setor público e privado.

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