Com grande entusiasmo, apresento a coluna "Segredos das Algas: Ciência, Sustentabilidade e Inovação", um espaço dedicado a explorar o fascinante universo das macroalgas e seu papel essencial em um mundo cada vez mais voltado à sustentabilidade. Neste primeiro texto, mergulharemos no histórico da algicultura no Brasil, um setor com enorme potencial, mas cercado de desafios. 5l6c36
A produção de algas no Brasil tem uma história relativamente curta e, até pouco tempo atrás, estava restrita a pequenos projetos experimentais de cultivo e à coleta de espécies nativas nos bancos naturais. As primeiras tentativas de cultivo de macroalgas, como os gêneros Gracilaria e Hypnea, começaram no final da década de 1980, impulsionadas por pesquisas que buscavam explorar o potencial comercial e ambiental dessas algas. Esses esforços, voltados ao cultivo de macroalgas nativas, ocorreram principalmente nos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte.
Posteriormente, em 1995, foi introduzida no Brasil a espécie exótica Kappaphycus alvarezii, oriunda das Filipinas, com o objetivo de fomentar a produção de carragenana. O cultivo comercial dessa alga exótica foi autorizado em 2008, inicialmente na Baía de Sepetiba (RJ) e em Ilhabela (SP), após avaliações de impacto ambiental e potencial econômico. Mais recentemente, em 2020, o cultivo de Kappaphycus foi liberado também em Santa Catarina, e segue em análise pelos órgãos ambientais a sua liberação em todo o Nordeste.
Estudos destacam o papel de iniciativas locais na promoção da maricultura e na adaptação de técnicas de cultivo para integração com outras atividades, como o cultivo de camarões e peixes. Essa abordagem integrada não apenas amplia o escopo da algicultura no Brasil, mas também aumenta a eficiência no uso de recursos e contribui para a sustentabilidade ambiental. No entanto, ainda existem desafios para viabilizar o cultivo de algas integrado a outros sistemas produtivos.
Os avanços recentes na regulamentação e os incentivos à aquicultura em áreas da União estão promovendo uma verdadeira transformação no setor. De acordo com o Boletim da Aquicultura em Águas da União, a produção de macroalgas em 2023 atingiu 666,4 toneladas, sendo vista como uma atividade de ciclo rápido e baixo impacto ambiental, ideal para complementar as práticas de maricultura tradicional. Esse crescimento reflete não apenas a demanda crescente por produtos sustentáveis, mas também o esforço de comunidades costeiras, produtores e empreendimentos inovadores, como o exemplo da BlueC, que alia inclusão social à sustentabilidade. Apesar de ainda ocupar um pequeno, mas significativo, espaço no setor aquícola brasileiro, a algicultura demonstra grande potencial.
O Brasil possui condições ambientais ideais para a algicultura. Com uma costa de cerca de 8.700 km e uma biodiversidade marinha única, o país é capaz de cultivar diferentes espécies de algas, atendendo a diversos mercados, como o alimentício, o agrícola, o cosmético e o farmacêutico.
Por outro lado, a expansão da algicultura enfrenta diversos desafios. Entre os mais evidentes estão:
O futuro é promissor, apesar dos desafios. Estudos indicam que o Brasil está em uma posição estratégica para liderar a produção de organismos aquáticos sustentáveis, com possibilidades de integrar macroalgas em cadeias produtivas mais amplas. A incorporação de tecnologias, como bioflocos e sistemas de recirculação, pode aumentar significativamente a produtividade e reduzir impactos ambientais.
Nos próximos anos, espera-se uma expansão considerável da produção, impulsionada por iniciativas como a exploração de águas da União, formação de redes de stakeholders, o aumento da demanda global por soluções sustentáveis e o avanço da bioeconomia. A algicultura representa não apenas uma oportunidade econômica, mas também uma solução para desafios globais, como a segurança alimentar e a emergência climática.
Convido você a acompanhar esta coluna e a explorarmos juntos os segredos das algas e seu potencial para transformar o futuro.
Até o próximo mergulho!
Stefany Almeida Pereira é bióloga marinha formada pela UNESP e possui mestrado e doutorado em Aquicultura pelo Caunesp. É fundadora e diretora da BlueC, uma startup voltada ao fortalecimento da economia azul por meio do cultivo sustentável de algas marinhas nativas, promovendo impactos positivos no meio ambiente e na sociedade. Durante sua trajetória acadêmica, participou de projetos como a Rede de Pesquisa em Sustentabilidade na Aquicultura, investigando a viabilidade econômica e ambiental do cultivo de macroalgas no Brasil. Seu doutorado, realizado em parceria com a UNESP, o CNPq e o setor privado, focou na sustentabilidade de sistemas de cultivo de macroalgas no mar e em terra sob as perspectivas da síntese emergética e economia neoclássica. Também colaborou com o projeto europeu Aquavitae. Possui experiência em sistemas integrados, cultivo de macroalgas, sustentabilidade e bioeconomia. Vê o cultivo de algas como uma ferramenta estratégica com potencial para solucionar desafios ambientais e socioeconômicos, contribuindo para o desenvolvimento de uma economia do mar mais sustentável.
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